間 Motoi Yamamoto e seu jardim de sal
O Ma representado no ideograma japonês 間 é o desenho da ideia de um espaço vazio demarcado por quatro pilastras no qual poderia haver a descida e a consequente aparição do divino.
O espaço seria, assim, o da disponibilidade de acontecer e, como toda possibilidade, o fato poderia concretizar-se ou não: é o vazio entendido como potencialidade.
“(…) el vacío, la quietud, el desapego, la insipidez, el silencio, la inacción, son el nivel del equilíbrio del universo, la perfección de la via y de la virtud. Por ello, el soberano y el santo permanecen siempre en reposo. Este reposo conduce al vacío que es plenitud, la plenitud que es totalidade. Este sea eficaz. ”
Este entendimento estético de Ma se reflete em toda cultura japonesa, nos silêncios entre os diálogos, na arquitetura, no manga, é um cultivo de um vazio fértil, um espaço intervalar que permite a revelação do silêncio.
O conceito japonês de Ma (間) é central para compreender a obra de Motoi Yamamoto, artista conhecido por suas instalações feitas com sal, que lembram labirintos, ondas ou campos de energia em expansão.
Assim como nos jardins secos (karesansui), onde o vazio entre as pedras é tão importante quanto as pedras, Yamamoto faz do espaço em branco – o chão que sustenta as linhas de sal – parte constitutiva da obra.
Suas obras não são apenas desenhos no chão: são territórios de suspensão do tempo, onde o espectador caminha em silêncio, convidado a perceber o espaço entre si mesmo e a obra. Esse intervalo é Ma.
O sal é instável, pode se dispersar facilmente, e muitas obras são destruídas após a exposição, retornando ao mar. Esse gesto abre um espaço simbólico entre o ato de criar e o ato de deixar ir.
“o sal é vida e morte ao mesmo tempo; é o que conserva e o que se dissolve.”