Memóri@s: Museu em Mutação (2013 - 2015)

O que você lembra, como lembra
e por que é memorável ?

Vivemos na cultura digital o descarte das lembranças, com prazo de validade, 24 horas no "stories". A enxurrada de dados e imagens da internet nos trouxe o desafio da curadoria de conteúdos. Como selecionar o que permanece, o que tem valor?

Ser memorável é durar na fluidez e efervescência do tempo, mais do que resistir é saber orientar. A amnésia programada e compulsiva do esquecer é sedutora. O que você pode recordar e como permanecer atento ao muito, sem cair na exaustão?

Borges falava em sua obra, Funes: o memorioso - da função mediadora do esquecimento.

Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair.
No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes quase imediatos

O que não pode ser esquecido é fundamento, a raiz do sentido que está além de qualquer lista mnemônica das tarefas cotidianas.
O que mesmo em estado silencioso da semente é perene?

A primavera da memória não é uma coleção de lembranças ou um museu de grandes novidades, é uma teia de relacionamentos.
Um simples sussurro e pulsamos quem somos.

A anamnese é portanto o exercício do sincero reconhecimento de nossas fórmulas do lembrar. Você sabe reconhecer qual é a ontologia do seu memorar?

O caminho da recordação podia ser outro, se você mudasse a vereda atravessaria outras compreensões? Quando entramos num livro, num museu, numa palestra percorremos mais do que conteúdos, caminhamos num modo de lembrar.

Você reconhece o seu? O que é chão, o que é paisagem nos pressupostos que você elege para ordenar e hierarquizar a sua memória, o que você esqueceu de lembrar?

Guimarães Rosa, o mestre das encruzilhadas já advertia:

Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda hora a gente está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade. Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor

Quando lembramos voltamos aos nossos olhos d'agua, as fontes dos nossos entendimentos.
Convém ter vagar nesta busca, calma e paciência para que o que aflora seja nosso e não emprestado das ideologias presentes.

A profundidade inicia com o silêncio, esta escuta interna deste "labor intus” que existe no seu coração.

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Créditos:

Co-criação: Adriana Costa e Ana Paula Gaspar
Comunicação e vinheta: Fabiana Gutierrez e Carla Silveira Douglass
Design: Gustavo Santos
Consultoria técnica : Marilúcia Botallo
Parcerias: Museu da Pessoa | SISEM-SP
Filmagem e edição: Saul Nahmias
Musica vinheta: Marinho Boffa



Folder e material para facilitação

Fichas de experiências realizadas no mundo, buscando a participação do público e a informalização e divulgação dos acervos.
Material didático desenvolvido para os encontros com estudiosos da área.

Fichas Museu em Mutação


Palestras e oficinas
Jornadas Culturais 2014


Secretaria de Cultura e Economia Criativa RJ
Jornadas Culturais 2014


Reprograme 
Publicação da experiência do Museu das Minas e do metal no livro

Clique na imagem para fazer o download da publicação


Memória da Arte educação
Em parceria com o Instituto de Arte Tear e o Museu da Pessoa 


MUSEU

Há pratos, mas falta apetite.
Há alianças, mas o amor recíproco se foi há pelo menos trezentos anos.
Há um leque — onde os rubores?
Há espadas — onde a ira?
E o alaúde nem ressoa na hora sombria.
Por falta de eternidade juntaram dez mil velharias.
Um bedel bolorento tira um doce cochilo, o bigode pendido sobre a vitrine.
Metais, argila, pluma de pássaro triunfam silenciosos no tempo.
Só dá risadinhas a presilha da jovem risonha do Egito.
A coroa sobreviveu à cabeça.
A mão perdeu para a luva.
A bota direita derrotou a perna.
Quanto a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha competição com o vestido continua.
E que teimosia a dele! E como ele adoraria sobreviver! 

WISŁAWA SZYMBORSKA