Sebastião Salgado: o silêncio me salvou

Sebastião Salgado nasceu em 1944, em Aimorés, Minas Gerais. Cresceu em uma fazenda cercada por mata atlântica, o que lhe deu uma conexão profunda com a natureza. A trajetória de Sebastião Salgado como fotógrafo é profundamente marcada por experiências de solitude, deslocamento e pela busca de uma escuta visual do mundo.

A fotografia documental de Salgado requer longas esperas, intimidade construída, observação paciente. Ele mesmo comenta que para fazer algumas fotos, especialmente nas tribos isoladas ou em regiões de difícil acesso, passou meses em silêncio, apenas convivendo com as pessoas e a paisagem.

"Eu não vou a um lugar só para tirar uma foto. Eu vou para viver aquele lugar."
Sebastião Salgado, em entrevista ao The Guardian, 2015

Depois de passar quase uma década fotografando refugiados e zonas de guerra (Êxodos), Salgado entrou em profunda crise emocional e física. Sofreu o que ele mesmo chamou de esgotamento moral. Como resposta, iniciou com sua esposa Lélia o projeto de reflorestamento da fazenda de sua infância — que daria origem ao Instituto Terra.

Ao mesmo tempo, começou o projeto Gênesis, que o levou a lugares ainda preservados da ação humana — Antártica, Amazônia, tribos isoladas, desertos africanos.

“Gênesis foi a minha cura. Voltei a ter fé na humanidade e na Terra.”
Salgado, em entrevista à National Geographic

No documentário O Sal da Terra (2014), dirigido por Wim Wenders e por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado, essa dimensão silenciosa da vida de Sebastião é evidenciada. O filme alterna entre o silêncio das imagens e a fala pausada do fotógrafo, que narra suas experiências com contenção e emoção.

Há uma cena especialmente marcante em que ele comenta:
“Eu vi coisas que um ser humano não deveria ver. Precisei me recolher. O silêncio me salvou.”

Durante anos, Salgado percorreu as maiores tragédias da segunda metade do século XX:
– os campos de refugiados da África,
– a fome na Etiópia,
– o genocídio em Ruanda,
– a guerra na ex-Iugoslávia,
– a seca e a miséria no Nordeste brasileiro,
– e tantos outros lugares de sofrimento.

Ele desenvolveu sintomas de exaustão profunda e perdeu a fé na humanidade.

"Depois de Ruanda, eu não queria mais fotografar seres humanos."
Sebastião Salgado, em "O Sal da Terra"

Foi nesse momento de colapso que sua esposa, Lélia Wanick Salgado, propôs que voltassem à fazenda da família dele, , que estava devastada pelo desmatamento. Começaram então um projeto de reflorestamento.

Ali, Salgado viveu uma experiência de reconexão com o silêncio da natureza.
Sem ruído urbano, sem multidões, sem guerra. Apenas o som do vento, da chuva, das folhas. Um silêncio vivo, fértil, regenerador.

“A floresta voltando me curou. Eu voltei a respirar. Voltei a acreditar.”

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