Violeta Parra : reexistências bordadas

“Hay que medir el silencio,

hay que medir las palabras,

sin quedarse ni pasarse

medio a medio de la raya.”

Música: El Albertio

Violeta Parra percorreu o território chileno para resgatar as formas de tocar, os instrumentos e as letras de canções perdidas ou esquecidas. Esta pesquisa rendeu à cantora e compositora uma obra com raízes extremamente fincadas em seu país, e que, justamente por isso, se tornou universal.

Quando a ditadura militar de Augusto Pinochet se instalou no Chile (1973 – 1990), chegou com ela o terror, o medo e a censura. A obra de Violeta e de outros integrantes do movimento da Nueva Canción Chilena – entre eles Victor Jara, Inti Illimani e Quilapayún – foram perseguidos porque cantavam a liberdade e a esperança de novos dias.

Muitos discos de Violeta foram destruídos porque as pessoas tinham medo de tê-los em casa. Tanto que hoje, no Chile, é raríssimo encontrar os discos fabricados nesta época.

 A potência da obra de Violeta não só anunciou novos dias, como sobreviveu às quase duas décadas de opressão e se mantém pulsante.

As arpilleras são uma antiga tradição popular iniciada por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, região localizada no litoral chileno feitas com retalhos e sobras de tecidos bordadas sobre sacos de batatas ou de farinhas. Representavam uma importante fonte de sobrevivência para as mulheres e, com o tempo, se tornaram também meio de expressão. 

Catálogo da exposição : Arpilleras da resistência política do Chile

“As arpilleras mostravam o que realmente estava acontecendo nas suas vidas, constituindo expressões da tenacidade e da força com que elas levavam adiante a luta pela verdade e pela justiça. Além disso, cada uma destas obras pôde quebrar o código de silêncio imposto pela situação então vivida no país. Hoje, são testemunho vivo e presente, e uma contribuição à memória histórica do Chile” Roberta Bacic

A técnica tornou-se popular no Chile durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, como um gesto visual de resistência e identidade..Os bordados muitas vezes retratam cenas da vida cotidiana, como comunidades rurais, atividades agrícolas e familiares e também cenas de repressão, tortura e desaparecimentos. 

Nos últimos anos de sua vida, Violeta Parra enfrentou um período de profunda solidão e sofrimento emocional. Durante esse tempo, a música, que sempre fora sua principal forma de expressão, passou a dividir espaço com o trabalho manual. A arpilleria se tornou uma forma de comunicação sem som, um fazer silencioso que traduzia sua dor, sua cosmopercepção do mundo.

Em abril de 1964, Violeta expôs suas arpilleras, óleos e esculturas no Museu de Artes Decorativas, Pavilhão Marsan do Palacio, do Louvre. 

Foi a primeira exposição individual de uma artista hispanoamericana nesse museu.

A presença de suas arpilleras no Louvre representou um marco: uma mulher, autodidata, ligada às raízes populares e camponesas do Chile, conseguiu romper barreiras culturais e entrar no coração da elite artística europeia. Isso desafiou os cânones tradicionais da arte, elevando a arte popular e artesanal ao mesmo patamar das chamadas belas-artes.  As obras de Violeta não eram apenas decorativas; elas tinham forte conteúdo social, político e poético. Por meio do bordado, ela contava histórias, denunciava injustiças, celebrava a cultura popular e expressava emoções profundas.

Na véspera da inauguração da exposição no Louvre, Violeta expressou sua surpresa e alegria:

"Jamais pensei que minhas tapeçarias, arpilleras, esculturas e pinturas iriam gozar de tal lugar para se apresentar em Paris."

Bordar é narrar o que não se pode ou não se consegue dizer, cada ponto é um ato de coragem. Muitas artista seguem hoje esta vereda de Bordado e Memória,

O bordado pode acolher nossos silêncios mais profundos e as mãos contam sussurando o que o coração sente, você já experimentou ? 

Referências para conhecer mais sobre a vida de Violeta Parra

https://www.museovioletaparra.cl/violeta-parra/

 Filme : VIoleta foi para o céu https://youtu.be/zJtXii3gGUE

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Clarice Lispector : O silêncio é tal que nem o pensamento pensa