Natália Lafoucarde : música medicina e memória

Como nasce uma canção ?

Esta é uma pergunta que orienta o podcast que virou programa na Netflix denominado song exploder

É incrível acompanhar as histórias por trás de cada música e perceber as diferentes camadas do processo criativo.

Escolhi o episódio de Natália Lafourcade e sua música Hasta la Raiz porque traz um contexto de mudança no arco de sua carreira e a decisão por uma investigação de novas sonoridades e sentidos.

De estrela pop líder das paradas de sucesso no início dos anos 2000, fase esta marcada por letras juvenis, Lafourcade se transformou em porta-voz de uma geração que busca resgatar e homenagear a música tradicional.

“Eu era muito pequena e me lembro de ver o fandango [um tipo de música e dança de origem árabe-ibero-americana, muito tradicional no México] e o son jarocho sendo tocados no porto de Veracruz. De sair para passear com a minha mãe e observar como as outras mães brincavam com os pés de seus bebês, fingindo um sapateado. Eles eram tão pequenos que nem andavam ainda, ou seja, a música e essa respectiva herança já era capaz de mover seus pézinhos ao ritmo da música. É uma memória forte…

Natalia e seu amigo Leonel Garcia escreveram a música “Hasta la raiz” com um ritmo baseado num estilo de música da sua cidade Vera Cruz chamado huapango, uma homenagem e reconhecimento do seu berço musical.

Sigo cruzando ríos
Andando selvas, amando el sol
Cada día sigo sacando espinas
De lo profundo del corazón

En la noche sigo encendiendo sueños
Para limpiar
Con el humo sagrado, cada recuerdo

Cuando escriba tu nombre en la arena blanca, con fondo azul
Cuando mire el cielo en la forma cruel
De una nube gris, aparezcas tú
Una tarde suba una alta loma
Mire el pasado, sabrás que no te he olvidado

Yo te llevo dentro
Hasta la raíz
Y, por más que crezca
Vas a estar aquí

Aunque yo me oculte tras la montaña
Y encuentre un campo lleno de caña
No habrá manera, mi rayo de luna, que tú te vayas

Oh-uh-oh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh-oh, oh-oh

Pienso que cada instante sobrevivido al caminar
Y cada segundo de incertidumbre
Cada momento de no saber
Son la clave exacta de este tejido
Que ando cargando bajo la piel
Así te protejo
Aquí sigues dentro

Yo te llevo dentro
Hasta la raíz
Y, por más que crezca
Vas a estar aquí

O que yo me oculte tras la montaña
Y encuentre un campo lleno de caña
No habrá manera, mi rayo de luna, que tú te vayas
Que tú te vayas

Yo te llevo dentro
Hasta la raíz
Y, por más que crezca
Vas a estar aquí

O que yo me oculte tras la montaña
Y encuentre un campo lleno de caña
No habrá manera, mi rayo de luna, que tú te vayas
Que tú te vayas

Oh-uh-oh, uh-uh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh, uh-uh-oh, oh-oh
Oh-uh-oh-oh, oh-oh

Yo te llevo dentro
Hasta la raíz
Y, por más que crezca
Vas a estar aquí

O que yo me oculte tras la montaña
Encuentre un campo lleno de caña
No habrá manera, mi rayo de luna, que tú te vayas


Link para ouvir no Spotify : Hasta la Raiz

A cantora fala que sentia seu espírito doente e queria que esta canção fosse um processo de cura e retorno a si mesma.

Perceber o processo criativo que gerou a música ressignifica as palavras que escutamos, gerando novas camadas de sentido e emoção.

Hasta la raiz abriu caminho para uma nova rede criativa de pesquisa , Natalia continuou o processo gravando Las Musas com a dupla de violinistas Los Macorinos, uma homenagem a música tradicional e popular latino americana. A cantora escolheu canções que trazia na sua memória afetiva dando um toque pessoal na sua interpretação.

No documentário percebemos o tom afetivo dos músicos em relação ao processo criativo com Natália, é bonito ir acolhendo nos relatos o quanto o encontro modificou a todos, foi um processo coletivo repleto de vivências criativas e amorosas.

Percebemos como a memória criadora vai se modificando com o tempo, bordando o delicado refazimento das músicas tradicionais..

Edgar Morin, vê o artista inevitavelmente na efervescência da cultura – o que não torna homogêneo o seu ponto de vista e a forma como apreende e dissolve as informações, afinal, ele tem a sua rede particular de conhecimento, o que torna a apreensão do conhecimento em algo individualizado.

Neste processo de diálogo entre passado e presente vemos as tramas criativas, as recriações à partir das interações.

“(...) cada obra é uma possível concretização do grande projeto que direciona o artista.

Se a questão da continuidade em rede for levada às últimas conseqüências, pode-se ver cada obra como um rascunho ou concretização parcial deste grande projeto.” SALLES, Cecília

Ouça este episódio aqui : Natália Lafoucarde

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