Tim Ingold na terça leitora

Tim Ingold é um antropólogo britânico, nascido em 1948. Ele recebeu seu doutorado em 1976 ao realizar uma pesquisa etnográfica sobre ecologia, organização social e politica étnica entre os Saami Skolt do norte da Finlândia.

Ingold foi “chair” na Universidade de Manchester e desde 1999, começou a dar aulas na Universidade de Aberdeen, Escócia. Nesta Universidade ele encontrou a liberdade para ministrar aulas da maneira que ele pensava ser mais adequada, por exemplo: seus alunos ficam descalços nas aulas para entrar mais em contato com o ambiente. Ingold os leva à praia para soltar pipa, e com isso, perceber a imanência ao longo das linhas que juntam areia, aluno, pipa e vento, chegando até a fazer balaios, para trabalhar a univocidade ao longo de conteúdo e expressão.

Tim Ingold é o nosso convidado para o próximo semestre no grupo de leitura , vamos ler o seu livro: Estar Vivo e em paralelo traremos vários vídeos e artigos para complementar e enriquecer nossa leitura. A vida é para este pensador :

um nome para o que está acontecendo no campo generativo dentro do qual as formas orgânicas estão localizadas e mantidas no lugar’” (Ingold, 1990)

No livro temos dezenove capítulos, organizados em cinco partes:

  • Limpando o terreno

  • A malha

  • Céu e Terra

  • Um mundo contado

  • Desenho fazendo escrita

Os capítulos estão organizados em cada parte perfazendo um caminho que vai desde uma reflexão ontológica sobre a emergência dos materiais, o animismo e as malhas, passando pela forma do mundo (sua textura) e os modos de conhecê-lo, findando com uma proposta de uma antropologia que não deixaria de ser, para Ingold, uma antropografia.

Segundo o autor, o livro é tecido com os

“fios temáticos que o permeiam” , sendo cada capítulo um ponto particular, um nó que entrelaça fios que, ao serem seguidos por nossos movimentos de leitura pode, a principio, serem lidos de qualquer lugar ou de qualquer ordem.

O autor espera que ao fim de nossa jornadas possamos compreender as tecituras de seu argumento, quer seja, o de que

“[...] se mover, conhecer e descrever não são operações separadas que se seguem uma as outras em série, mas facetas paralelas do mesmo processo – o da vida mesma [...]

Perceber a paisagem é, dessa maneira, realizar um ato de lembrança, e lembrar não é mais uma questão de resgatar uma imagem interna guardada na mente do que uma questão de se envolver perceptivamente com um ambiente que está repleto do passado.

Um lugar deve seu caráter às experiências que proporciona àqueles que passam algum tempo lá — às vistas, sons e até cheiros que constituem sua ambiência específica.

E estes, por sua vez, dependem dos tipos de atividades nas quais seus ocupantes se envolvem. É a partir desse contexto relacional do envolvimento das pessoas com o mundo, no modo ou qualidade de se ocupar da habitação, que cada lugar tem seu significado único.

“A paisagem é o mundo como conhecido por aqueles que nele habitam, que nele ocupam seus lugares e percorrem os caminhos que lhes conectam, a paisagem está sempre na natureza do “trabalho em andamento”.

Já deixo aqui a indicação de um primeiro vídeo , uma palestra realizada em junho de 2022 na ilha de Santorini, um simpósio para discutir o conceito de paisagem.

O que me emocionou nesta apresentação foi a explicação que Tim Ingold fez das diferentes formas de compreender as relações entre as diferentes gerações.

A possibilidade da convivência, de diferentes faixas etárias estarem juntas e articuladas num sentido comum e na compreensão de que cada pessoa nutre o solo da tradição da comunidade. Esta possibilidade contrasta com nossa vivência moderna de entendimento das gerações como camadas etárias , onde cada geração inicia tudo de forma independente.

Ingold deixa muito claro a impossibilidade de comunicação entre as gerações quando o paradigma é de que cada grupo etário (geração) deve superar o anterior.

[...] através da participação recíproca na vida de cada um - através dos esforços contínuos e implacáveis de jovens e velhos, imaturos e maduros, para chegar a uma espécie de concordância - que a educação e os conhecimentos, valores, crenças e práticas de uma sociedade são perpetuados

Aprender para Tim Ingold não é um enchimento/acúmulo de conhecimento em alguém, mas o desenvolvimento de uma habilidade, uma afinação perceptiva do mundo. O conhecer, então, não reside nas relações entre estruturas no mundo e estruturas na mente, mas é imanente à vida e consciência do conhecedor, pois desabrocha dentro do campo de prática – a taskscape– estabelecido através de sua presença enquanto ser-no-mundo.

A cognição, neste sentido, é um processo em tempo real : viva

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Os encontros serão realizados nas terças feiras na Residência criativa, a partir de setembro.

Vem participar :

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Escute um pouco sobre o pesquisador e o prólogo do livro :

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