Favor fechar os olhos : um tempo de despreocupação

“Tem-se uma conclusão quando o início e o fim do processo formam um conjunto dotado de sentido, uma unidade dotada de sentido, quando eles se prendem um no outro. Assim a narrativa é uma conclusão. Por causa da sua conclusão, ela produz um sentido.

Também rituais e cerimônias são formas de conclusão. Elas tem, desse modo, seu tempo próprio, o seu próprio ritmo e compasso. Elas representam processos narrativos que se furtam à aceleração. Seria um sacrilégio acelerar um ato de sacrifício. Acelerar sem fim, em contrapartida, é o que o processador faz, pois ele não trabalha narrativamente, mas apenas aditivamente. Narrativas não se deixam acelerar arbitrariamente.

A aceleração destrói as estruturas próprias de sentido e tempo. O inquietante na experiência do tempo atual não é a aceleração como tal, mas sim a conclusão faltante, ou seja a falta de ritmo e compasso das coisas. Não apenas o tempo narrativo é uma conclusão. Também o instante que contenta e satisfaz é uma conclusão, pois ele é fechado em si próprio. Ele não tem, por assim dizer nada à sua volta. Ele repousa em si mesmo e se satisfaz consigo próprio. Assim, ele é sem passado e sem futuro, sem lembrança e nem espera, ou seja, se “cuidado” no sentido heideggeriana. Esta ausência de cuidado ( e preocupação) contenta.”

“Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie “ seguindo esta profecia de Nietzche , Byung Chul Han escreve um pequeno e contundente livro : Sociedade do cansaço .

Em favor fechar os olhos : em busca de um outro tempo o filósofo que nasceu na Coréia do Sul e hoje vive na Alemanha nos convida a buscar um tempo bom, na vivência do que dura e pode ser comtemplado amorosamente. O pensador explica :

“A causa do encolhimento do presente não é, como se assume equivocadamente a aceleração. Antes, o tempo como uma avalanche, lança-se adiante, porque ele não tem mais uma parada. Aqueles pontos do presente entre os quais não existiria nenhuma forca gravitacional e nenhuma tensão, pois são meramente aditivos, desencadeiam uma ruptura do tempo, o que conduz ao aceleramento sem direção e sem sentido.

Quem é depressivo não é capaz de uma conclusão. Sem conclusão porém, tudo se dissipa …Não por acaso, a indecisividade, a incapacidade para a escolha é sintomática da depressão. A depressão é característica de um tempo no qual se perdeu a capacidade de concluir e encerrar.”

A proposta é contemplar o “aroma do tempo” , sair da fragmentação, do atomismo, da hiperatividade sem repouso e acolher o que permanece no instante.

Nesta arte da demora, o pensador retoma a leitura de “ Em memória do tempo perdido”, como uma forma de protesto com a “idade da pressa” que se anunciava. Proust segundo ele, tenta resgatar o tempo nas artes, ameaçado de desintegração.

A olfação é compreendida como o sentido da memória e do despertar, inspirada no relato de Proust sobre o aroma e o sabor de uma madeleine (torta) dissolvida num chá. O que perdura é a sensação do sabor e do aroma como dominantes num processo de memória involuntária.

A idade da pressa é uma idade sem aromas, o aroma do tempo é uma manifestação da duração.

“Quem tenta viver com mais rapidez, também acaba morrendo mais rápido. A experiência da duração, não se dá no número de vivências….

Escolhi um vídeo que fala sobre o livro em espanhol, são vários os comentadores no Youtube já que o pensador é muito popular..

O espanhol tem um ritmo e som que me agrada e já que a idéia é fruir o mundo vamos saborear outros modos de dizer o mesmo.

Nunca ninguém está mais ativo do que quando não faz nada, nunca está menos sozinho do que quando está consigo mesmo.
— Byung Chul Han
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