Em estado de sonho

Senta aqui ao meu lado, respira profundamente e vem contar seus sonhos no nosso Festival Cria:sonhários.

Tudo nasceu da pergunta :

Por que consideramos o mundo dos sonhos como não realidade ?

Imagine que as vivências oníricas são não só um reino de memória mas também do devir, não somente um território existencial para revivermos nosso mundo subjetivo mas também uma outra forma de contato e encontro com outros seres.

Nesta compreensão o estado de sonho pode ser acessado dormindo, em mirações, num sonho lúcido ou mesmo acordado em pleno centro da cidade.

O sonho é uma frequência de profunda conexão, um portal de acesso ao mundo interior dos sentimentos e ao mundo exterior dos acontecimentos sutis.

A teoria da complexidade de Edgar Morin nos permite pensar o mundo onírico como uma noosfera, onde podemos sintonizar diálogos entre o nosso mundo individual e as expressões coletivas percebendo suas ressonâncias sutis e arquetípicas.

“há uma proliferação onírica, através e apesar de sua ordem dispersiva, a despeito da multiplicidade de sentidos que aí se combinam fazem simbiose, parasitam-se. Combatem-se de modo aleatório, com uma lógica subterrânea ativa, um discurso que se busca por analogia/metáfora, esconde-se, quebra-se, perde-se, reencontra-se num coquetel de sentido e falta de sentido”

— Edgar Morin -2002 ( O método 4)

Em diversas culturas ancestrais, os sonhos são este modo de acesso, um portal de contato direto com estes seres que nos avizinham, plantas, animais, espíritos dos ancestrais e que podem nos orientar em sua linguagem simbólica e misteriosa para as escolhas na vida cotidiana.

Edgar Morin em seu texto nos alerta para a ambiguidade desta linguagem, é impossível andar neste território onírico numa linha reta pois as derivas analógicas são a sua essência. A errância é uma disponibilidade nesta busca dos sentidos no sonho, um ensaio permanente e cambaleante de si neste território de remotos mistérios.

Lula Queiroga nos encanta com a síntese:

Cada ser tem sonhos a sua maneira

A questão é que este infinito particular pode também vibrar em ressonância ativando devires, germinando territórios de existências ainda em semente. Aprendemos esta potência para outros modos de presença onírica com a Barbara Glowczewski , em seu estudo sobre os DEVIRES TOTÊMICOS – COSMOPOLÍTICA DO SONHO.

Na convivência com os aborígenes australianos ela escreve:

“O sonhar designa tanto o espaço-tempo da memória das ações míticas, com a qual os humanos se comunicam através dos sonhos, quanto um conjunto de operadores religiosos e sociais. Sonhares, no plural, designa todos os antepassados híbridos com nomes totêmicos, as narrativas míticas nas quais esses antepassados são os heróis, os locais sagrados, os per- cursos geográficos, os motivos gráficos, cantados ou dançados.

Um homem ou uma mulher aborígene, para definir sua ligação com um lugar, pode também dizer: “Eu sou este ou aquele sonhar

Estar em estado de sonho é se abrir para estes devires.

Esta é a essência/convite do Festival Cria: sonhários : cocriar outros espaços e tempos na cidade, possibilitar que novas sementes de convivialidade germinem.

Marca linda de Gustavo Santos

O Festival não se restringe a uma programação de ateliês, caminhadas e intervenções poéticas, cada encontro é uma oferenda, um gesto poético polinizando outras rodas de partilha de sonhos. Faça você também o seu Festival, palavra que carrega a consagração dos encontros livres e amorosos.

Vem partilhar a Curadoria sonhários no nosso instagram , ouvir a playlist , assistir aos filmes, ler os livros e principalmente ativar o seu estado de sonho.

Escreve contando pra gente o que achou da proposta, te espero !

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